sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Reportagem do nosso projeto na revista nova escola

ATÉ 3 ANOS
Fraldas e livros
Acredite: não é perda de tempo ler para quem ainda nem aprendeu a falar. Conheça seis projetos voltados à primeira infância
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Julia Priolli, colaborou Carol Salles

Quando a escritora de livros infantis Tatiana Belinky perguntou ao pediatra, nos idos de 1940, em que momento deveria começar a educar seu filho, então com 3 meses de vida, ouviu como resposta: "Você já está atrasada". Parece mera frase de efeito. O fato, porém, é que o doutor estava coberto de razão. Não há idade para dar início à educação de uma criança - e isso vale também para o incentivo à leitura.
Foto: Kriz Knack
Pequenos se divertem com livros-brinquedos na UME Doutor Luiz Lopes, em Santos, SP: projeto de leitura no berçário causou espanto no início, mas acabou sendo premiado
Bebês podem até não entender todo o enredo de uma história, mas a leitura em voz alta os coloca em contato com outras dimensões das linguagens oral e escrita, que serão importantes em seu desenvolvimento. "Eles percebem que a fala do dia-a-dia é diferente daquela usada numa leitura, que tem cadência, ritmo e emoção. Entendem, por exemplo, que há um começo, um clímax e um desfecho", explica Fraulein Vidigal de Paula, doutora em Psicologia Escolar.
Entrevista - Tatiana Belinky
Especialistas acreditam que, para alguém se interessar por livros na vida adulta, é fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo. Ou seja: estimular a leitura dentro do berçário, com bebês que ainda nem aprenderam a falar, pode ser o caminho mais curto para a formação de um futuro leitor. "Manuseando um livro, eles são capazes de identificar a existência da grafia e passam a estabelecer uma relação direta com a linguagem escrita", afirma Fraulein. Pouco importa se a criança ainda não aprendeu a ler ou se o exemplar em questão é feito de papel, plástico ou tecido.
Eu recomendo
CLÁUDIA LEÃO, criadora do projeto Leitura no Berçário! Por Que Não?, de Santos, vencedor do prêmio Proler"Para os bebês, a leitura de histórias que assustam é sempre boa sugestão. Os pequenos se entregam ao ritmo, à cadência e à entonação usadas pelo narrador. Melhor ainda se a criança já tiver capacidade de entender o enredo, ou pelo menos parte dele. Aí, ela se empolga de vez. Uma das figuras que mais provocam medo na primeira infância é o Lobo Mau, um clássico dos contos infantis. Por isso, todas as histórias com esse personagem são altamente recomendadas: Chapeuzinho Vermelho, Três Porquinhos, Pedro e o Lobo, entre outras. A Companhia Editora Nacional tem uma compilação belíssima de todos esses contos. E a obra é ilustrada por grandes artistas." O GRANDE LIVRO DOS LOBOS, Vários autores, 120 págs., Companhia Editora Nacional, tel. (11) 2799-7799, 45 reais
É verdade que leitura para bebês pode assustar até professores. Foi o que descobriu a pedagoga Cláudia Leão, de Santos, no litoral de São Paulo. Em 2002, durante uma reunião com educadoras do berçário onde trabalhava, Cláudia propôs uma atividade de leitura. A idéia foi recebida com espanto e até um pouco de desdém. Mas Cláudia bateu o pé e, da sua teimosia, nasceu o projeto Leitura no Berçário! Por Que Não?. Àquela altura, a pedagoga não fazia idéia do que ainda estava por vir. Cinco anos mais tarde, em 2007, seu trabalho seria amplamente reconhecido e ela receberia um prêmio do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler).
"Manuseando o livro, os bebês são capazes de identificar a grafia e estabelecem uma relação direta com a linguagem escrita" Para despertar a paixão pelos livros nos pequenos da UME Doutor Luiz Lopes, Cláudia usou uma estratégia muito simples: ela criou livros feitos de pano e feltro que têm, em todas as páginas, desenhos de bichos e fotos de cada um dos bebês, lado a lado, como se fossem personagens de uma história. Quando a criança se reconhece, ao virar uma página e encontrar a própria foto, ela se levanta e escolhe outro livro, trazendo-o de volta à roda de leitura para dar continuidade à brincadeira. "Mecanismos desse tipo levam-na a perceber que entre ela e o livro há uma distância mínima", diz Cláudia. Conforme crescem, tornam-se elas mesmas as contadoras de histórias.
Dicas de leitura
A CASA SONOLENTA, Audrey Wood, 32 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 20,90 reaisA ARCA DE NOÉ, Vinícius de Moraes, 64 págs., Ed. Cia. das Letras, tel. (11) 3707-3500, 42 reais MICO MANECO, Ana Maria Machado, 24 págs., Ed. Salamandra, tel. 0800-17-2002, 22,90 reais EU GOSTO MUITO, Ruth Rocha e Dora Lorch, 16 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 17,90 reais DE QUE COR VOCÊ É?, Corinne Albaut e Virginie Guérin, 12 págs., Ed. Salamandra, tel. 0800-17-2002, 49,90 reais
Leitura em família
São muitos os benefícios que o contato com livros, ainda na primeira infância, é capaz de proporcionar. Várias funções psicológicas podem ser desenvolvidas, entre elas a memória e a capacidade de estruturar as informações. A leitura em voz alta para uma criança de até 3 anos ajuda a despertar sua sensibilidade para diferentes formas da fala e ainda tem o efeito positivo sobre a chamada atenção seletiva - a capacidade de se desligar de outras fontes de estímulo, mantendo-se concentrada numa só atividade por períodos mais longos. Ler histórias também ajuda no desenvolvimento da noção de tempo. O bom e velho "era uma vez" carrega em si a idéia de algo que acontecia e já não acontece, apresentando à criança a existência do antes, do agora e do depois. "Com a prática da leitura, os bebês desenvolvem estruturas para a ordenar o mundo com base no critério de temporalidade", diz Fraulein Vidigal de Paula.
Foto: Leo Drumond/Ag. Nitro
Uma das nove creches atendidas pelo projeto Espaço de Ler, Direito de Todos, em Belo Horizonte: incentivo à constante participação dos pais nas atividades de leitura
Na capital mineira, um projeto que estimula o envolvimento dos pais no incentivo à leitura tenta potencializar todas as vantagens que a proximidade com livros pode oferecer aos pequenos. E, assim como o Leitura no Berçário!, também vem colhendo bons resultados. Trata-se do Espaço de Ler, Direito de Todos, que foi implementado em nove creches e atende 950 crianças. Ele é mantido pelo Instituto C&A, que, por meio de seu programa Prazer em Ler, apóia iniciativas para a formação de leitores, com suporte do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). Nas creches de Belo Horizonte, são realizadas mediações de leitura com as professoras e também com funcionários das lojas C&A, que participam como voluntários. A cada 15 dias, os próprios pais são convidados a ler histórias para toda a turma. Isso estimula os pequenos a levar livros para casa e continuar por lá a "brincadeira" de leitura com o resto da família.
Eu gostei
DAVID FELIPE GONÇALVES, 2 anos, ouviu muitas histórias no projeto Espaço de Ler, Direito de TodosDavid gosta muito do livro Cadê Clarisse?, de Sônia Rosa. O motivo? As ilustrações são grandes e coloridas. "Ele não precisa entender as letras para entender a história", diz a mãe, Solange Cristina Gonçalves. CADÊ CLARISSE?, Sônia Rosa, 18 págs., Ed. DCL, tel. (11) 3932-5222, 16 reais
"Crianças, familiares e educadores participam ativamente do espaço das bibliotecas, coisa que não acontecia antes de implementarmos o projeto", diz Leandro Gomes, coordenador pedagógico da Creche Elizabeth Santos e integrante do conselho gestor do projeto. Outras atividades de incentivo à leitura são especialmente aguardadas pelos pequenos. Uma delas: eles podem escolher, entre vários livros colocados sobre a mesa, quais querem ler enquanto tomam lanche. O Espaço de Ler, Direito de Todos é apenas um dos projetos que apostam na participação intensiva de pais e familiares para garantir o envolvimento das crianças com a leitura. Em Curitiba, outra iniciativa segue a mesma linha. Ela acontece na CEMEI Santa Izabel e tem por trás o Instituto Avisalá, de São Paulo, cujas principais ações se concentram na formação continuada de profissionais que trabalham com Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental.
Dicas de leitura
TRAQUINAGENS E ESTRIPULIAS, Eva Furnari, 32 págs., Ed. Global, tel. (11) 3277-7999, 18,50 reais QUEM PEGOU O PÃO DA CASA DO JOÃO?, Bia Villela, 24 págs., Ed. Paulinas, tel. (11) 5081-9333, 13,80 reais QUEM TEM MEDO DE CACHORRO?, Ruth Rocha, 24 págs., Ed. Global, tel. (11) 3277-7999, 21 reais UM PASSEIO COM A NUVEM SOFIA, Nicoletta Costa, 10 págs., Ed. Salamandra, tel. 0800-17-2002, 39,50 reais HISTORINHAS DE CONTAR, Natha Caputo e Sara Cone Bryant, 128 págs., Ed. Companhia das Letrinhas, tel. (11) 3707-3500, 39,50 reais HISTÓRIAS COM POESIA, ALGUNS BICHOS E CIA., Duda Machado, 32 págs., Ed. 34, tel. (11) 3816-6777, 18 reais

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